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quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Guiné 61/74 - P19286: FAP (113): Os pilotos do Lobo Mau (helicanhão), José Duarte Príncipe e Raul Coelho, foram quem identificou e sinalizou a ambulância russa do PAIGC, entre Copá e a fronteira do Senegal, quando estavam a dar proteção ao grupo do Marcelino da Mata, "Os Vingadores", em fevereiro de 1974 (Miguel Pessoa)


Guiné > Região de GTabu > Setor L3 >  Nova Lamego >  1974 > ; Ambulância do PAIGC, de fabrico soviético, capturada pelas NT em fevereiro de 1974. (*)

Foto (e legenda): © António Santos (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Região de Gabu >  Bajocunda > 1.ª CCAV/BCAV 8323, 1973/74 > O fur mil mec auto Amílcar Ventura em ambulância capturada ao PAIGC [, entre Copá e a fronteira, em fevereiro de 1974, pelo Grupo do Marcelino da Mata e o Astérix, nome de guerra do cap paquedista Valente dos Santos, da CCP 122 / BCP 12,  BA 12, Bissalanca, 1972/74. Fotos do álbum de Amílcar Ventura, ex-fur mil mec auto, 1ª CCAV / BCAV 8323 (Pirada, Bajocunda, Copá, 1973/74), natural de (e residente em) Silves. (**)

Foto (e legenda): © Amilcar Ventura (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego >  CCS/BART 6523 (1973/74) >  O ex-1º cabo enf Alfredo Dinis, já falecido, junto à ambulância capturada ao PAIGC.

Foto do álbum do José Saúde, ex-fur mil op esp / ranger, CCS do BART 6523 (Nova Lamego, 1973/74), residente em Beja. (***)

Foto (e legenda): © José Saúde  (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Região de Gabu > Bajocunda > 1.ª CCAV/BCAV 8323, 1973/74 >  Mais uma foto da ambulância capturada ao PAIGC, de matrícula FF554CN.  Foto do álbum do camarada António Rodrigues, um dos bravos de Copá, ex-soldado condutor auto, da 1ª CCAV do BCAV 8323 (Bajocunda e Copá, 1973/74) (****)

Foto (e legenda): © António Rodrigues  (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do Miguel Pessoa,  com data de hoje, 17h36:

Caros editores

Li no blogue o texto do José Saúde sobre a famosa ambulância “sacada” ao PAIGC e trazida pelo Marcelino da Mata para o nosso território (Poste 19283) (***).

Sabendo de uma versão mais apurada do acontecido, resolvi contactar o José Duarte Príncipe, o piloto do helicanhão que esteve envolvido directamente neste episódio e, porque não quero falar por interposta pessoa, pedi-lhe um comentário ao que ali foi escrito.

Aqui fica a sua resposta. Para que conste.

Abraço.
Miguel Pessoa

José Duarte Príncipe.
Foto: cortesia da sua  página do Facebook
2. Mensagem do José Duarte Principe, hoje piloto da aviação comercial, ref, ex-alf mil pil, AL III, Bissalanca, BA 12, 1972/74,  recebida e retransmitida pelo Miguel Pessoa:

Caro Miguel Pessoa:

Em resposta ao teu mail,  fui fazer uma visita ao blog que me enviaste e constatei que a história está incompleta (***).

De facto, o Marcelino participou com os seus "muchachos" no transporte e escolta à ambulância, inicialmente até Piche e depois até Bissau. (Esta segunda hipótese é apenas um palpite da minha parte, porque eu e o Raul Coelho estávamos em destacamento em Nova Lamego e aí permanecemos, não acompanhando portanto o seu trajecto até ao destino final.)

Efectivamente, a descoberta foi feita por mim e pelo primeiro cabo Cardoso, cuja destreza no canhão era sobejamente conhecida .

O avistamento do veículo aconteceu durante uma acção de apoio de fogo e reconhecimento da área em que o Marcelino estava a operar na picada entre Bajocunda e Daifa,  no pressuposto de existir armamento abandonado pelo PAIGC no trajecto entre as duas povoações .

Foi com alguma dificuldade que conseguimos identificar o veículo, porque estava coberto com um camuflado - o que inicialmente, pela silhueta, nos pareceu um carro de combate parecido ás nossas Panhards.

Depois de algumas manobras á vertical,  pedi ao Cardoso para fazer um tiro, com o intuito de acalmar algum "meliante"  que estivesse por perto e com vontade de nos "abonar".

Para grande surpresa nossa, como o tiro bateu relativamente perto do alvo, levantou-se o referido camuflado,  pondo assim a descoberto a tal silhueta, que mais não era que uma ambulância, por sinal muito parecida com as antigas Comet,  de fabrico inglês.

Depois disto, em contacto com o grupo do Marcelino, foi-lhe dada orientação por mim para o local que curiosamente era em território senegalês, bem encostadinho à fronteira que dividia os dois territórios.

A tarefa de recuperação do veículo não se apresentava fácil, porque a vegetação era densa em direcção á nossa fronteira e era necessário transpô-la o mais rapidamente possível para evitar surpresas ou encontros indesejados.
Marcelino da Mata, alferes graduado, c. 1974.
 Foto: DN - Diário de Notícias,
de 4 de janeiro de 1998 (com a devida vénia)

Para isso, foi necessário munir o grupo com uma motosserra que o Raul Coelho tratou de ir buscar a Nova Lamego, enquanto eu continuei a dar proteção ao grupo, não fosse o diabo tecê-las.

Quando o Raul chegou com o tão desejado equipamento, ficou ele a dar protecção á rapaziada, enquanto eu voltava à "rasquinha" de combustível para Nova Lamego para abastecer e substituir o Raul Coelho que também já estava perto do "bingo" (nos limites de combustível).

O resto foi uma alternância entre os dois na protecção ao Marcelino, que durou até ele conseguir chegar à picada e prosseguir depois duma forma mais rápida com destino a Piche, onde a ambulância permaneceu até ser enviada para Bissau dias depois.

Esta tarefa terá demorado seguramente parte de toda a manhã, entrando pela tarde,  até estarmos todos num estado de esgotamento apreciável.

Curiosamente descobri no Facebook o MMT do Exército que conduziu o veículo ao longo de todo o trajecto. Infelizmente não consigo as fotos que me enviou durante o nosso diálogo, porque ele desistiu de ser facebookiano e eu não guardei a preciosidade que as fotos representavam.

Espero que esta "seca" sirva para te esclarecer dos acontecimentos tal como foram vividos na altura.

Duarte Príncipe.


3. Comentário do editor LG:

Miguel, vem mesmo a propósito, o depoimento do teu amigo e nosso camarada José Duarte Príncipe... Nada como ir à fonte...O José Duarte e o Raul Coelho, pilotos de AL III, e os respetivos 1ºs cabos apontadores de canhão (O Cardoso e outro camarada, de que não sabemos o nome) é que são os heróis desta história, sem com isso queremos tirar o mérito ao grupo do Marcelino da Mata que trouxe o "ronco", a ambulância russa, até pelo menos Nova Lamego.

Eu já tinha ido recuperar um poste do Carlos Fernandes, de há oito anos atrás, em que ele diz ter feito parte do Grupo do Marcelino da Mata, "Os Vingadores", na qualidade de guarda-costas do cap pára Valente dos Santos ...e ter participado nesta operação (Op Gato Zangado)... O mérito da descoberto é do piloto do helicanhão, parece não haver dúvidas... E imagino que terá sido preciso muito sangue frio, persistência, coragem e perícia por parte dos pilotos... voando tão baixo.(*****).

Agradece muito, da minha parte, ao José Duarte Príncipe. Acabo de publicar a sua versão, preciosa, neste poste da série FAP... E já agora fica aqui o convite para ele (e o Raul Coelho) se juntarem aos bravos da Guiné, de terra, ar e mar, e dar-nos a honra, aos vivos e aos mortos, de sentarem à sombra do nosso poilão... (*******)

PS1 - O Carlos Fernandes, nosso grã-tabanqueiro, alega ter sido eliminado dos páras (CCP 122) pela "Aeronáutica Militar" (sic) em novembro de 1973... Não diz porquê... Passou para o exército e depois foi guarda-costas do Asterix (o Valente dos Santos)... Sabes algo mais sobre este camarada Carlos Fernandes, ex-1º cabo pára, também da CCP 122 / BCP 12, que andou por lá entre finais de 1971 e agosto de 1974 ?...  Vd. aqui entrevista sua ao DN, Diário de Notícias, de 4 de janeiro de 1998. Nâo tenho há muito notícias dele.

PS2 - Em complemento, o Miguel Pessoa diz.me que o Duarte Príncipe e o Cardoso formavam a equipa do Lobo Mau (Helicanhão). O Raul Coelho também pilotava na altura um Helicanhão, AL-III.  Devia também um apontador. Não era habitual haver uma parelha de helicanhões numa operação.  Mas nesta operação (Op Gato Zangado) talvez se justificasse. Quanto ao Carlos Fernandes, o MIguel não tem ideia dele.
______________

(**)  17 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14156: Casos: a verdade sobre... (3): Jaime Mota (1940-1974), combatente do PAIGC, natural da ilha de Santo Antão, Cabo Verde, morto em 7 de janeiro de 1974, em Canquelifá por forças da CCAÇ 21 - Parte III (Luís Graça / José Vicente Lopes / José Manuel Matos Dinis)

(***) Vd. poste de 12 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19283: Memórias de Gabú (José Saúde) (73): Ambulância apanhada ao PAIGC (José Saúde)

(****) Vd. poste de 3 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14214: Memórias de Copá (5): Janeiro e Fevereiro de 1974. (António Rodrigues)

(*****) Vd. poste de 21 de outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7150: Tabanca Grande (249): Carlos Fernandes, ex-1º Cabo Pára (CCP 122, 1971/74) e ex-elemento do Grupo Os Vingadores, do Alf Grad Marcelino da Mata

(...) Luis Graça, o que de momento me leva a enviar estas palavras é para falar a respeito da notícia sobre a Ambulância, que foi capturada entre Copá e a Fronteira [com o Senegal]. Eu estive nessa operação, eu e o capitão Asterix (que não era o António Ramos, mas sim o Valente dos Santos).

Nessa altura, ou seja entre fins de 1973 a agosto de 74, quem fez parte do COE , foram o Major Veiga da Fonseca, do Exército, já falecido, e o Capitão Pára Valente dos Santos de quem junto uma foto de grupo, onde estou eu e o Valente dos Santos (...) . Foi tirada em Bula a quando da entrega das Boinas Vermelhas. Foi o nosso grupo o primeiro a usar tal cor de boina.

Hoje a Boina, que o Marcelino usa nesta foto , que também junto (...) , fui eu que lha ofereci, antes de ter vindo viver para a Madeira. Dei-lhe o crachá bem como os emblemas do grupo, os Vingadores.

Pois nessa operação, que teve por nome Gato-Zangado, em Fevereiro de 74, saímos de Bajocunda, andámos toda a noite... A operação consitia em armadilhar as linhas de água, com as "Bailarinas" e as "Viúvas Negras", pelo Alferes Tarro, do Exército. Eu fiquei encarregue de lhe fazer a segurança, a esse Alferes.

Já tinhamos colocado algumas armadilhas na zonas de água e estavamos no nosso descanso, quando aparecem dois sujeitos da população do PAIGC, com uns baldes, para irem buscar água, dentro do território deles. Aí começa a caça ao inimigo. Houve uma troca de tiros e, na perseguição, encontrámos caixotes de Armamento, granadas de RPG, bem como Armas.

Foi pedido apoio aéreo, na retirada do material, e foi numa das voltas do héli-canhão, que se deu com algo escuro, que de cima não deu para ver o que seria. Foi com base na informação do piloto do héli, que deparámos com uma viatura tipo Ambulância que se encontrava tapada, camuflada com árvores cortadas, com o sistema de ligação estragado. Foi o Marcelino que conseguiu colocá-la a trabalhar, depois de pedir combustível a Bajocunda, que era o quartel mais perto. Depois a Ambulância foi levada até Massacunda, local onde estava uma coluna de mantimentos para Copá e Bajocunda.(...)


(******) Último poste da série > 24 de outubro de 2018 > Guiné 61/74 - P19133: FAP (112): Há aviões... e aviões, há o Cessna 152 e o Dornier, DO 27 (E. Esteves de Oliveira)

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Guiné 63/74 - P7150: Tabanca Grande (249): Carlos Fernandes, ex-1º Cabo Pára (CCP 122, 1971/74) e ex-elemento do Grupo Os Vingadores, do Alf Grad Marcelino da Mata


Guiné > Bula > 1973 > O grupo Os Vingadores, comandado pelo Alf Graduado Marcelino da Mata, no dia em que receberam as Boinas Vermelhas. Na foto, dois militares do BCP 12, o Cap Pára Valente dos Santos (conhecido por Capitão Asterix) e o 1º Cabo Pára Carlos Fernandes (na ponta esquerda). O grupo terá sido fuzilado pelo PAIGC, depois da independência, com excepção de um elemento gravemente ferido, evacuado para Lisboa,  bem como do Marcelino da Mata, que saiu oportunamente da Guiné. A informação é da autoria do Carlos Fernandes.




Guiné > S/l > O 1º Cabo Pára Carlos Fernandes, da CCP 122 / BCP 12 (Bissalanca, 1971/74) > Legenda do autor: "Eu e aminha MG 42"... 



Guiné > S/l > Brasão da CCP 122 / BCP 12... O Carlos Fernandes chegou à Guiné em Novembro de 1971 e saiu em  Agosto de 1974. O Carlos diz ter pena de não ter hoje 20 anos, para poder continuar nos páras, e servir a Pátria no Kosovo ou no Afeganistão.


Fotos : © Carlos Fernandes (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.


1. Mensagem do Carlos Fernandes, ex-1º Cabo pára-quedista, CCP 122 / BCP (Bissalanca, BA 12, 1971/74) que passa a partir de hoje a integrar, de pleno direito, a nossa Tabanca Grande. 

Com este poste completa-se a sua apresentação e fica registada a sua vontade expressa de se reunir a este grupo, virtual, de antigos combatentes da Guiné (1963/74), unidos por laços de camaradagem e pelo desejo de partilhar memórias desse tempo e desse lugar. Em meu nome, dos demais editores e dos restantes camaradas, desejo-lhe as boas vindas (*):


Data: 19 de Outubro de 2010 15:47
Assunto: Sobre a Ambulância


Boa tarde, amigo Luís Graça


Eu, Fernandes, antes de mais pretendo enviar as maiores saudações, para todos os camaradas de armas neste magnífico blog.

Pretendo e desejo dizer que não é o meu intuito falar mal de quem seja, ou chamar nomes a qualquer pessoa, se bem que por vezes temos essa vontade e também um desejo enorme de dizer algo, que nos vai na alma... Mas foi com total respeito que eu fiz a minha entrada, muito ao de leve, no teu blog e em companhia de bons amigos. Por sinal e não por acaso como dizem na gíria ser por acaso porque não existe,  mas sim caso ou casualidade, que já obti notícias de ex-colegas do mesmo pelotão e da mesma companhia da Guiné. Magnífico!...

Luis Graça,  o que de momento me leva a enviar estas palavras  é para falar a respeito da notícia sobre a Ambulância, que foi capturada entre Copá e a Fronteira. Eu estive nessa operação, eu e o Capitão Asterix (que não era o Ramos, mas sim o Valente dos Santos). 

Nessa altura,  ou seja entre fins de 1973 a Agosto de 74, quem fez parte do COE, foram o Major Veiga da Fonseca,  do Exército,  já falecido,  e o Capitão Pára Valente dos Santos de quem junto uma foto de grupo, onde estou eu e o Valente dos Santos [, vd. foto acima]. Foi tirada em Bula a quando da entrega das Boinas Vermelhas. Foi o nosso grupo o primeiro a usar tal cor de boina.


Hoje a Boina, que o Marcelino usa nesta foto , que também junto [, à esquerda], fui eu que lha ofereci, antes de ter vindo viver para a Madeira. Dei-lhe o crachá bem como os emblemas do grupo,  os Vingadores.

Pois nessa operação, que teve por nome Gato-Zangado, em Fevereiro de 74, saímos de Bajocunda,  andámos toda a noite... A operação consitia em armadilhar as linhas de água, com as "Bailarinas" e as "Viúvas Negras", pelo Alferes Tarro,  do Exército. Eu fiquei encarregue de lhe fazer a segurança,  a esse Alferes. 

Já tinhamos colocado algumas armadilhas na zonas de água e estavamos no nosso descanso, quando aparecem dois sujeitos da população do PAIGC, com uns baldes, para irem buscar água, dentro do território deles. Aí começa a caça ao inimigo. Houve uma troca de tiros e,  na perseguição, encontrámos caixotes de Armamento, granadas de RPG, bem como Armas. 



Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Ambulância, de origem russa, capturada ao PAIGC em Copá, Fevereiro de 1974. 



Foi pedido apoio aéreo, na retirada do material, e foi numa das voltas do héli-canhão, que se deu com algo escuro, que de cima não deu para ver o que seria. Foi com base na informação do piloto do héli, que deparámos com uma viatura tipo Ambulância que se encontrava tapada, camuflada com árvores cortadas, com o sistema de ligação estragado. Foi o Marcelino que conseguiu colocá-la a trabalhar,  depois de pedir combustível a Bajocunda, que era o quartel mais perto. Depois a Ambulância foi levada até Massacunda, local onde estava uma coluna de mantimentos para Copá e Bajocunda.

No dia seguinte à captura da Ambulância, tivemos um forte contacto,  muito bem cedo. Era um forte grupo, isto dito pelo Marcelino,  para cima de 100 guerrilheiros do PAIGC e com elementos Cubanos a comandar. Neste contacto foram feitos vários feridos e creio que também houve mortos pelo nosso lado, do lado do pessoal do Exército da coluna, que era para seguir para Copá. Essa coluna  não foi levada para diante. O grupo de guerrilheiros tinha estado de noite a enviar fogo para Copá.

O Capitão Valente dos Santos pediu apoio aéreo dos Fiat e a Ambulância foi levada depois para Bajocunda e também com um grupo de Milícias a dar proteção à restante coluna.

Pois eu até levei um louvor nessa operação, bem como depois levei outro louvor, já na operação Bétula, em Março de 74 na zona de Jumbembem [ou Jemberém ?], perto de Cacine, que deu a origem a uma cruz de guerra de 4ª classe, proposta pelo Marcelino da Mata.

Nesta operação foi para dar apoio moral e também dizer ao IN que seria possível os travar nas intenções deles se bem que,  no quartel de Jumbembem, estaria não uma Companhia, mas sim um Batalhão,  perto de mil e tal homens, mas não tinha ordens de fazer fogo pela assinatura do Governador da Guiné. 



Ao Grupo do Marcelino da Mata coube dar apoio ao pessoal,  em conjunto com os Fuzileiros Negros de Cacine, creio que era o Destacamento 2 comandada por um Tenente branco Fuza. Eu aí conheci o Látas, bem como o Guiné, Fuzileiros Especiais, que foram guardas-costas de um Comandante dos Fuzas, que não me recorda agora o nome dele.


Esta operação de facto teve o nome de Bétula, feita no mês de Março e iniciou-se de noite, com a saída de Cacine antes da meia noite, em botes da Marinha. Andámos rio acima, rio abaixo, tudo por culpa do Oficial da Marinha, que não soube dar com a entrada no local, fomos colocados já de manhã cedo, era dia e ao iniciarmos a entrada no tarrafo, que era lama, levámos uma emboscada de todo o tamanho, pois que o IN teve a possibilidade de fazer valas de noite, à nossa espera.

Nesta operação foi morto um chefe de grupo do IN, que tinha uma Kalash Especial, com um tambor de 40 munições,  que só os chefes de grupo é que as usavam, como aconteceu em Moçambique com as Armlites,  a menina R10 de alça. Os números do grupo apontados pelo Marcelino eram da ordem dos 80 elementos. A minha posição era (e sempre foi) a 3ª . O 1º era um elemento do grupo com a Kalash,  em 2º o Marcelino [, foto ao lado], eu em 3º e o Capitão Valente dos Santos em 4ª posição. Eu fui guarda-costas do Valente dos Santos, era a minha função no grupo.


Tivemos metade do grupo ferido e foi nesta operação que o Marcelino foi ferido com uma bala nas costas e onde um elemento levou uma rajada nos joelhos, sendo mais tarde evacuado para Lisboa.

Quanto aos restantes elementos do grupo,  tirando o Chefe e mais este da rajada,  todos eles foram fuzilados pelo IN, depois da Independência da Guiné.






Guiné > Região de Tombali > Aldeia Formosa > CCP 122 / BCP 12 > 2 de Abril de 1972 > O 1º Cabo Pára-quedista Carlos Fernandes, apontador de MG 42, fotografado com um casal feito prisioneiro: em primeiro plano, a criança,  do sexo feminino, filha do casal, completamente nua, levada pela mão do Carlos... A foto foi tirada pelo enfermeiro  do pelotão, o Serra.



Quanto à operação da foto de início, que deu origem à minha entrada na Tabanca Grande (*) pretendo dizer que foi na zona da Aldeia Formosa, em que diziam que o Nino estaria por aqueles lado. Antes de sairmos para a dita operação ou para o mato, foi-nos comunicado pelo héli-canhão, que fazia reconhecimento das zonas. Fizemos um Héli-Assalto, que deu com as três figuras meios escondidas [, um homem, uma mulher e uma criança, do sexo feminino]. 

O Comandante Araújo e Sá estava na Aldeia [ Formosa] e foi pedido voluntários das armas pessadas, para irem buscar  o casal, mais a miúda nua (que estava com muito medo devido às munições do héli, que eram de ponta vermelha incendiárias).

Quanto ao fotógrafo,  foi o Enfermeiro do pelotão,  o Serra, camarada de quem perdi o rastro. Não sei nada dele, desde a minha saída da Guiné, já tentei saber o paradeiro dele mas até agora não o consegui encontrar.

Já agora digo que conheço o [Sargento] Mor Rebocho. Foi por ele que eu apanhei a minha 1ª porrada na tropa. Se eu fosse mulher não me perdia de amores por ele. Isto ao fim de 3 anos... E depois daí apanhei mais 3, que no total foram 4 porradas.  A 3ª tinha eu 8 dias de Guiné e foi em Teixeira Pinto.

Haveria mais coisas para contar, mas fica para uma outra altura e já agora me deixa dizer, eu não fui herói, mas sim fui um Combatente. Fui bem treinado no ano de 1968 e tenho pena,  na data presente de 2010, não ter 20 anos, para poder ir até ao Kosovo ou ao Afeganistão.


Envio um forte abraço muito amigo para ti,  Luis,  e para todos os Camaradas de armas,  sejam eles quais forem. Um bem haja a todos.

Carlos Fernandes

[ Revisão / fixação de texto: L.G.]
____________

Notas de L.G.:

(*) Último poste desta série > 20 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7147: Tabanca Grande (248): Augusto José Saraiva Vilaça, ex-Fur Mil da CART 1692/BART 1914 (Sangonhá e Cacoca, 1967/69)


(**) Vd. poste de 7 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7093: (De) Caras (4): Eu também estive lá (Carlos Fernandes, ex-1º Cabo Pára-Quedista, CCP 122/BCP 12, 1971/74)


quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Guiné 63/74 - P7093: (De) Caras (4): Eu também estive lá (Carlos Fernandes, ex-1º Cabo Pára-Quedista, CCP 122/BCP 12, 1971/74)



Guiné > Região de Tombali > Aldeia Formosa > CCP 122 / BCP 12 > 2 de Abril de 1972 > O 1º Cabo Pára-quedista Carlos Fernandes, apontador de MG 42, fotografado com um casal feito prisioneiro: em primeiro plano, a criança,  filha do casal, completamente nua, levada pela mão do Carlos; em segundo plano, a mulher, de peito desnudo e com um simples pano à cinta, entre dois páras, vendo-se ainda o ombro do homem, à direita... Um foto, de guerra,  que capta um momento de grande expressão dramática, e que tem um real valor documental.  Quem terá sido o fotógrafo ? Seguramente um camarada do Carlos, da CCP 122, que "também estava lá"...

Foto: © Carlos Fernandes (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.


1. Mensagem do ex-1º Cabo pára-quedista, Carlos Fernandes, CCP 122 / BCP (Bissalanca, BA 12, 1971/74), remetida em 30 de Setembro último:

Assunto: Eu estive lá também

Luis Graça:

Eu,  Fernandes,  ex-Pára da 122, estive lá na Guiné entre Novembro de 71 a Agosto de 74 e estive no grupo do Marcelino da Mata entre Janeiro de 74 até eu vir embora,  muito depois do 25 de Abril.

A minha arma na Guiné foi a MG 42 sempre, desde o início da comissão até ao 25 de Abril, onde fui condecorado com a Cruz de Guerra 4ª classe pelo Marcelino. Só a recebi em 2006 em Chelas. Também recebi a Medalha das Campanhas da Guiné.

Mas antes estive em Moçambique,  em Nacala,  no BCP32, entre Março de 1970 a Janeiro de 71. Participei em várias operações,  a melhor foi a Nó Górdio, em que a minha Companhia,  a 1ª , apanhou para cima de 27 mil kilos de armamento junto ao Rio Rovuma.

Tomámos a Base Moçambique perto de Nangulolo, onde nessa altura morreu o tal Capitão das Chaimites e o pessoal que ia dentro dela, pois o Capitão, burro, colocou a Chaimite a abrir caminho, como arrebenta- minas. Eu ia nessa coluna.

Junto duas fotos do antigo,  com a MG ao ombro,  em Aldeia Formosa,  e outra tirada o ano passado.  Estou reformado. O meu posto foi 1º Cabo Pára-quedista. Vivo aqui na Ilha da Madeira por opção.

Meu contato é canico2009@hotmail.com

Irei dando noticias. Tenho fotos de alguns tempos e bons.

Um abraço amigo a todo o pessoal deste blog dos amigos da Guiné

Carlos Fernandes
TM 937743321

2. Comentário de L.G.:

Obrigado, Carlos, pelas tuas notícias e pelo abraço que mandas a todo o pessoal do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Tomei boa nota do teu interesse em continuar a dar-nos notícias tuas e mandar-nos fotos do teu álbum. Não foste, porém, explícito na manifestação do teu eventual interesse em fazer parte da nossa Tabanca Grande e subscrever as nossas regras de sã convívio e de boa ética. Presumo que sim, e nessa medida serás bem vindo, na tua qualidade de antigo combatente no TO da Guiné.

Sei que eras conhecido como o Fernandes da MG 42, e que terás pertencido ao 4º Gr Comb da CCP 122. Espero que encontres malta da tua subunidade, desse tempo.

Se bem leste e compreendeste as nossas regras, sabes que não fazemos juízos de valor sobre nenhum camarada, em termos de comportamento operacional. A missão fundamental do nosso blogue é criar condições, de liberdade intelectual e de conforto psicológico,  parar partilharmos uns com os outros, e com os demais  leitores que nos seguem de muitas partes do mundo (de Portugal, Guiné-Bissau, Cabo Verde, Brasil, Estados Unidos, etc.), as histórias das nossas vidas no TO da Guiné, entre 1963 e 1974.

Não preciso, pois, de lembrar-te que não gostamos de chamar "burro" a ninguém, mesmo quando camaradas nossos tenham feito eventualmente asneiras fatais, no teatro de guerra, como terá sido o caso do tal capitão das Chaimites em Moçambique que tu não identificas (e ainda bem).

Sobre a foto com os prisioneiros, que publicamos acima, devo dizer-te que é forte e, para alguns dos nossos leitores, até poderá ser chocante, podendo ferir eventuais susceptibilidades e sensibilidades. Mas não vale a pena ignorar, escamotear ou branquear a realidade da guerra que nos tocou em sorte. Não quero que essa foto se vire contra ninguém: nem contra ti nem contra nós, os antigos combatentes portugueses, os pára-quedistas. Nem contra nós nem contra o PAIGC,  o inimigo de ontem... Também a minha CCAÇ 12 fez prisioneiros, mulheres, crianças e idosos, em estado andrajoso, miserável, as crianças nuas e subnutridas... Essa foto teve o condão de mexer comigo e com algumas das memórias mais dolorosas da guerra...

Se quiseres e puderes, conta-nos pormenores dessa operação realizada na região de Aldeia Formosa, em Abril de 1972, as circunstâncias em que foi apanhada a criança e os seus pais, o destino que foi dado aos prisioneiros, etc... Muitos dos nossos camaradas e amigos gostariam, muito provavelmente, de conhecer mais pormenores desses acontecimentos de que foste actor e testemunha. E, já agora, lembras-te de quem foi o autor da foto ?

Enfim, feita a tua apresentação sumária como ex-1º Cabo Pára, falta-te contar pelo menos uma história da tua/nossa guerra, como mandam as nossas regras. Sobre o teu BCP 12, já temos no nosso blogue mais de 60 referências. E sobre a tua CCP 122 há já uma dezena de postes com referências. Um Alfa Bravo (abraço) para ti em meu nome e dos demais co-editores do blogue. Luís Graça

_______________

Nota de L.G.:

Último poste desta série > 30 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7058: (De) Caras (3): A emboscada em Malandim e a descontrolada reacção do 1º Cabo Costa, na noite de 3 de Agosto de 1969:Branco assassino, mataste uma mulher (Beja Santos)